A Economia no Dia Seguinte às Eleições

Decorreu no passado dia 22 de abril, no Centro Cultural de Belém, a 9.ª Conferência Anual do ECO – Fábrica 2030, evento que contou com o patrocínio da Yunit Consulting. Sob o mote “A economia no dia seguinte às eleições”, este encontro reuniu empresários de referência e líderes partidários para debater o futuro da economia portuguesa num cenário de incerteza política e económica.

A presença do nosso CEO, Bernardo Maciel, nas mesas-redondas, reforçou o compromisso da Yunit Consulting em contribuir para o debate público sobre os temas mais críticos para o tecido empresarial nacional.

A sessão foi inaugurada por Pedro Nuno Santos, líder do Partido Socialista, que defendeu a necessidade de desburocratizar processos e apostar na seletividade da economia, fazendo referência às práticas liberais dos Países Baixos. Face às novas tarifas americanas, o líder socialista destacou a urgência de um esforço diplomático europeu para evitar uma escalada protecionista. Sobre a descida do IRC, o dirigente foi peremptório: “Não é uma redução do IRC que vai fazer a economia crescer de forma estonteante” sinalizando que o país não tem das taxas efetivas mais elevadas.

“Não é uma redução do IRC que vai fazer a economia crescer de forma estonteante. As empresas que conseguem reinvestir em investigação e desenvolvimento, em capitalização conseguem uma taxa efetiva muito mais baixa”

Pedro Nuno Santos, Líder Partidário do Partido Socialista (PS)

_ Radiografia Empresarial

No painel "Radiografia Empresarial", o tom divergiu da posição socialista. Rafael Campos Pereira, vice-presidente executivo da AIMMAP, defendeu que a elevada carga fiscal estrangula o investimento privado e compromete o crescimento. Já César Araújo, presidente da ANIVEC, alertou para o impacto dramático das tarifas americanas no setor têxtil português e para a necessidade de proteger a indústria europeia da concorrência desleal.  Já Luís Pedro Duarte, presidente da Portugal DC, trouxe à reflexão o tema da estabilidade política, sublinhando que a incerteza atual afasta investimento estrangeiro e prejudica o ambiente económico de um país que "tem condições para atrair investimento". 

“Temos uma tenaz fiscal que constrange o crescimento. [É preciso] descer o IRC para estimular o investimento privado e baixar o IRS para ajudar a motivar os nossos trabalhadores”

Rafael Campos Pereira, vice-presidente executivo da AIMMAP

_ Talk: Financiamento das Empresas

O painel dedicado ao financiamento empresarial evidenciou o papel crucial da banca no suporte ao crescimento económico. Luís Ribeiro, administrador do novobanco, salientou que os bancos não são apenas agentes de crédito, mas motores de criação de valor para as famílias e empresas. Armindo Monteiro, presidente da CIP, defendeu com veemência a redução da carga fiscal como condição essencial para atrair investimento estrangeiro e melhorar a produtividade nacional. A experiência da Irlanda foi apontada como exemplo de sucesso que Portugal deveria considerar.

Quanto ao impacto das tarifas norte-americanas, prevaleceu a ideia de que Portugal deve concentrar-se nas variáveis que pode controlar, nomeadamente, na melhoria da competitividade e na simplificação administrativa.

“Há um outro mundo para onde Portugal se deve virar. Aquilo que temos de fazer depende de nós, perceber onde somos competitivos, manter uma economia aberta e aumentar o peso das exportações”

Luís Ribeiro, administrador do novobanco

_ Mesa-Redonda: Os Heróis PME

No painel "Os Heróis PME", os empresários partilharam na primeira pessoa os desafios que enfrentam. O arranque da mesa-redonda foi dado pelo CEO da Yunit Consulting que apresentou e explicou a iniciativa Heróis PME e a importância para o tecido empresarial português.

Clara Moura Guedes, presidente da Monte do Pasto, lamentou a falta de apoios à inovação no setor primário, apelando a uma maior agilidade nos mecanismos de incentivo. De seguida, Luís Febra, administrador do Grupo SOCEM, alertou para o impacto da imprevisibilidade na estratégia empresarial e sublinhou a necessidade de políticas de apoio à exportação que favoreçam projetos de longo prazo. Defendeu ainda a existência de uma discriminação positiva para as empresas que mais contribuem para a criação de valor.

Bernardo Maciel, CEO da Yunit Consulting, destacou que a instabilidade política tem levado a atrasos nas decisões de investimento, alertando para a importância de preservar a estabilidade institucional de entidades como a AICEP e o IAPMEI, fundamentais para apoiar a internacionalização e o crescimento empresarial.

“Até haver uma clarificação do que se passa dentro de portas, aguardam por uma estabilidade para a sua senda de investimento. Estas instituições [IAPMEI e AICEP] deveriam ser estáveis, são organizações com uma lógica quase empresarial, para dar estabilidade a quem vai investir”

Bernardo Maciel, CEO da Yunit Consulting

Por fim, Paulo Pires, responsável pelas Operações Comerciais da Tabaqueira, apelou a um diálogo mais aberto entre o Estado e a indústria, reforçando que a continuidade dos investimentos depende de uma política clara e estável. Com mais de 400 milhões de euros de investimento e 90% dos fornecedores nacionais, a Tabaqueira é um exemplo da capacidade de gerar valor local com impacto internacional. Deixou ainda uma nota sobre o futuro: a inovação e a inteligência artificial deverão ser utilizadas de forma autêntica para promover a personalização e a competitividade.

_ Encerramento: A Perspetiva da Iniciativa Liberal

O encerramento ficou a cargo de Rui Rocha, líder da Iniciativa Liberal, que defendeu a necessidade de reduzir impostos sobre o trabalho e as empresas para fomentar a criação de riqueza. Criticou o foco em medidas como a descida do IVA e reforçou a aposta numa reforma do Estado com uso intensivo da tecnologia para simplificação e desburocratização. Sobre o futuro político, Rui Rocha assumiu o compromisso de a Iniciativa Liberal ser um fator de estabilidade no dia seguinte às eleições.

“Não desejo que esta instabilidade continue e espero que a próxima legislatura dure quatro anos”

Rui Rocha, Líder Partidário da Iniciativa Liberal (IL)

_ Conclusão

A 9.ª Conferência Fábrica 2030 foi um espaço de debate sobre os principais desafios que a economia portuguesa enfrenta nos dias de hoje. No que diz respeito à instabilidade política, a posição é transversal a todos os empresários – é necessário alcançar a estabilidade política para garantir aos empresários que há estabilidade para investir. “Já bastam as tarifas”, como diz Bernardo Maciel.

Ao longo da conferência foi destacado que não é o tamanho de Portugal que diminui a ambição dos empresários portugueses, mas sim as políticas fiscais. A necessidade de reduzir o IRC é crucial para reforçar o investimento nas empresas portuguesas, mas esse não é o único fator: a redução de impostos sobre o trabalho é também uma prioridade para aumentar salários e premiar a ambição de quem trabalha. Ideias que contradizem o discurso de Pedro Nuno Santos que desvaloriza a necessidade de reduzir o IRC e, caso ganhe as eleições, tem como objetivo aumentar o salário mínimo para os 1.100€ até 2029, assumindo que esta medida “vai colocar pressão sobre algumas empresas”.

Por fim, as tarifas americanas vão impactar vários setores económicos, sendo o setor têxtil um dos setores que mais vai ser afetados. Ficou a ideia de que este é um momento para repensar a estratégia e diversificar mercados. Para além disto, os empresários deixaram alguns alertas à União Europeia quanto às importações e à concorrência “desleal” com países como a China.

No final da conferência, a conclusão era clara: os empresários só querem que lhes dêem estabilidade e melhores condições fiscais. Temos recursos, temos ambição, temos um país com um potencial tremendo. Só falta que deixem os empresários fazer o país realmente avançar!

 Assista aqui à conferência